Vim guiando nesta madrugada pela ponte Rio-Niterói, pensando nessa vidinha insegura. A primeira coisa que vem a cabeça são as lembranças das pessoas que se esforçam muito para organizar a existência. Elas começam arrumando os quartos, depois a casa toda, as prateleiras dos livros, e claro, o coração fica bagunçado. Ferreira Gullar profetizou: A vida é suja, e sobretudo insegura...
Não adianta arrumar os pares das meias, acertar os cadarços dos tênis, botar as roupas por cores no armário...nada disso interessa. Podemos ser felizes com a roupa amarrotada. Podemos ser felizes, num quarto e sala. Sem carro, de táxi, de ônibus, podemos muitas coisas. Podemos até caminhar para um destino inimaginável, esse sim é o nosso roteiro...
Estava com preguiça e continuei horas deitado na cama, assim como morto-vivo. Depois fiquei de saco cheio e sai de carro indo parar na beira do mar. O dia era tão lindo que parecia novinho em folha. Havia um sol espetacular de um azul-céu na tonalidade literária. Naquele momento o meu pensamento me traiu. Meus olhos notaram as rugas nas mãos, as estrias no corpo, o pé de galinha tomou o espelho do retrovisor. Vi que envelhecia, vi que definhavam os dias gloriosos de imortalidade da juventude. E mais pensamentos me invadiam também naqueles momentos loucos. Uma hora dessas vão chegar assim sem jeito, e dizer que as mulheres que eu amei já se foram. Eu irei mergulhar nas lembranças e chorar pelos momentos que peguei fogo com cada uma. Momentos de incêndio da carne, essa companheira agora cansada. Eu vou lembra de fulana, de sicrana, de cada rosto que eu amei com todos os jeitos de cada amor que se pratica. Os olhos delas, olhares que não terei mais na jornada. E até hoje sei que era feliz em cada incêndio do coração selvagem. E até hoje não sei como cada uma delas se afastou...como a alegria, os sorrisos, a vida se foi...assim.
Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito
vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta– havia
sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade –
os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e
senti o grito infinito da Natureza.
Vou falar mais do chão da sala ou da parede da cozinha vou contar do maleiro que falta no quarto ou ainda da fruteira da vizinha
Vou falar dos 3 revestimentos do banheiro da luminária que não instalo no canto da sala e do som que cala na cama box vazia em fevereiro...
Eu Armagedon Guto Grana
uma do Manoel Bandeira
ARTE DE AMAR
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor. Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma. Só em Deus - ou fora do mundo.
A possibilidade de amor acabou, ou pelo menos a esperança de tornar o momento mágico num momento mais longo, com verniz de eternidade. O momento mágico vai perdendo o brilho, a luz, tudo vai se apagando. Não há nada que faça mudar esse ar de desapegando, de se desfazendo, de morte anunciada do amor. Só há pouco ar, respiração contraída, pouca palavras, um deserto de silêncio...
Feito cerol fininho a desesperança vem cortando na mão, vem decepando tudo, o olhar e o brilho dos olhos estancam...
O dia 2 de maio tem algo importante? Berlim foi tomada pelos soviéticos em 1945. Começou o 2 de maio de 68 na França. Em 1500, uma das caravelas da esquadra de Cabral, sai da Baía de Cabrália e segue de volta para anunciar a descoberta de terras novas - Futuro Brasil.
Mas para nós, hoje, é um dia depois do feriado do trabalhador. E voltamos ao trabalho normalmente.
O blog retorna em maio com apenas 4 linhas novas. Mais também repassa um link do Ponto do G antigo. Sobre a visão de uma pessoa apaixonada. Foi na passagem de 2009 para 2010. Espero que gostem.
a respiração vai a zero, falta ar... os olhos traem... aguados de amar...
Eu fico pensando até onde o medo nos leva? Alguns acreditam que nossa espécie evoluiu graças ao medo, criando artefatos e armas para proteção e desenvolvimento. É uma tese válida e com provas materiais acredito. Mas fico pensando no momento individual. No medo diário das pessoas comuns. O medo de sair de casa e ir a lugares que para a maioria seriam comuns e cotidianos. Há realmente esse medo e deve ser uma coisa muito paralisante. Fico pensando no medo da violência urbana, esse também me afeta, já que estou numa das áreas mais densamente povoada do planeta. Vejo e sinto o medo de perder o emprego. O medo de vagar sem ocupação formal. Também vejo e sinto o medo de, no meio desta caminhada, descobrir a inutilidade de tudo que passou, de tudo que foi cimentado até agora. É incrível ficar descalço na estrada e sentir o leve tremor do chão. A insegurança do caminho. A busca pela direção. Sentir o medo da folha branca e a tensa busca de palavras. As vezes elas não são tão claras. Cada minuto de espaço vazio é uma situação nervosa. E pode nascer o medo, e pode crescer o medo. Há ainda o medo de perder o amor. O medo de fraturar a relação amorosa. Será que ela se quebra? Ou será que dissolve ou se desfaz qual nuvem? O medo de deixar o coração aberto, o medo de sentir novamente uma paixão. Medo de ter medo de saber falar as coisas certas e fazer as coisas certas no momento ideal. Medo que apavora, medo que paralisa, medo que deixa mudo, deixa sem resposta, deixa a boca imóvel sem poder de gritar socorro.
Começando a semana com coragem, essa maneira de dizer: Estou com medo, mas estou reagindo.
Lembro de uma cena maravilhosa, do filme Blade Runner, aqui no Brasil traduzido como O caçador de Andróides. Numa das cenas, o “caçador” está seguro em apenas uma mão de um andróide que ele caçava. No alto de uma arranha-céu. Os personagens dos atores Rutger Hauer ( um ciborgue Nexus 6 de combate) e Harrison Ford ( Deckard - um ex-policial) ficam numa situação limite. A caça, o ciborgue chamados de replicantes, pode largar o caçador e deixar ele morrer pela queda. A cena numa tensão quase paralisante, mostra o ser que deveria ser sem emoções, fazer um discurso lindo sobre a vida ( vida breve - eles tinha 4 anos de limite) e o valor das coisas vividas. E antes de sua existência ser apagada, ele deixa o caçador em segurança no telhado.
O texto do filme é lindo. O nexus 6 diz:
“ é uma experiencia e tanto viver com medo. Isso sim, é a verdadeira escravidão!”
hoje finalmente saiu um pequeno texto em prosa. O Ponto do G nasceu em prosa. mas a vida é essa mistura. Prosa, verso, palavras desgarradas, discursos fortes, discursos em luta.
Parei perto da ilha,
para o barco descansar,
com madeira e rosto surrados
de tempestade...
a pele marcada de chuva
os olhos inundados de sol,
a ilha bem que atraiu,
por demais o viço dos coqueiros,
bichos, macacos,
sonhos terrenos,
canto de sereia,
e carne...
o coração suspirou...
mas sempre há rochedos encarpados,
e a praia some e cresce ao prazer da maré,
mas a brisa veio firme,
o barco meio que aprumou,
e na manhã qualquer
de qualquer dia,
o marujo viu o afastar da ilha.
Segue sempre barco e coração vadios...
segue assim perdido no oceano
é mais um ano
vendo tudo se afastar...
e a ilha?
vai sumindo...
bem lenta...
deslizando no vazio do mar...
Guto Grana
Eu Armagedon
09.04.13
CATRACA
Seu cardiologista
me ajude por favor...
ajuda esse coração babaca
que sempre emperra essa catraca
e bota a culpa no amor...
04.04.2013
Guto Grana
Eu Armagedon
SABOR
não vem sono nem sonho, só sede e tomo cerveja amarga a solidão não larga a solidez desaba, e eu vou me afogando... de linha em linha, verso contra verso, verso controverso puro contra-senso...
será que é falso? será que é fake? será tão fútil? será inútil
ou será apenas a máscara de um garoto sonso...
não vem o sono nem sonho, só sede e tomo cerveja amarga e minuto nenhum me canso...
Esta nova postagem fica para lembrar que este novo espaço foi criando no dia 1 de Abril, dia do golpe de 64. A data oficial é 31 de março, mas sabemos que o golpe foi tão covarde que teve até medo de ser iniciado no dia da mentira. Além de um espaço para escrever e gostar das palavras, este espaço é fundamentalmente um local, ou sítio de prazer, como dizem nossos irmãos portugueses. Contra torturadores, canalhas ortodoxos e dissimulados. Desconfiem dos moralistas, dos certinhos, dos perfeitos. Este é o desabafo.
sentir seus cabelos curtir seus dedos seus olhos fechados e suas mãos em desespero...
Guto Grana
MINHA CASA MINHA CASCA
eu comprei cama e colchão, Vou comprar mesa e cadeiras, e por televisão. Vou colocar música e filmes, sofá e bebidas e claro um ventilador... Quem sabe eu ganho visita um amigo, uma amiga ou um amor...
Renascendo para uns poucos, nascendo para outros poucos, o Ponto do G desta vez reloaded...
Nessa nova versão ou neste novo tempo, com um pouco mais de poesia.
Com o tempo vou colocar os links do antigo pontodog, criado com a ajuda maravilhosa da minha amiga Chris Brow.
vamos ao primeiro post e tentativa de versar...e conversar...
Veja as palavras que joguei na mesa
pegue o apagador e apague cada uma
As memórias dessas palavras só com o tempo
apagarão
por determinado espaço elas ainda vão seguir
eu ao contrário vou desistir da viagem
Fico na mistura de coragem-medo
Entra ação-inanição
Desço agora...ou na próxima estação...
as vezes as rimas surgem, não eram necessariamente pensadas...
Rio-Niterói in the darknness
Acabei de atravessar a baia escura e silenciosa
mas assim mesmo
vi e ouvi a poesia...
a poesia que assombrava a embarcação...